Em meio ao turbilhão da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e que investiga fraudes no INSS, a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) contra-ataca com uma agressiva campanha de imagem nas redes sociais. A ofensiva, que inclui o engajamento em publicações e o pedido para que funcionários gravassem vídeos ostentando o slogan “Eu Sou Conafer”, surge como uma tentativa de reafirmar a relevância e o apoio popular à organização, conforme revelado por mensagens internas obtidas e pelo depoimento de um ex-funcionário.
O estopim para essa mobilização foi a Operação Sem Desconto, que mira entidades suspeitas de forjar a filiação de associados e autorizações para descontos indevidos em folhas de pagamento de aposentados e pensionistas. O escândalo, amplamente divulgado pelo Metrópoles desde dezembro de 2023, expôs um esquema de arrecadação bilionária (R$ 2 bilhões em um ano) por parte de 29 entidades, apesar de enfrentarem milhares de processos por fraudes. As reportagens do portal foram cruciais para a abertura do inquérito da PF e para as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU), culminando com a Operação Sem Desconto, as demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência.
No dia seguinte à operação da PF, a Conafer instigou seus colaboradores a inundarem as redes sociais com um card que exaltava a entidade como a “alma coletiva de milhões de brasileiros que vivem da terra” e a “esperança dos invisíveis”. Paralelamente, a campanha de vídeos “Eu Sou Conafer” ganhou força, com dezenas de postagens diárias inundando o Instagram. A pressão interna era clara: todos os colaboradores, não apenas gestores, foram convocados a gravar e enviar seus vídeos com máxima urgência.
Dias após o início da operação, a Conafer anunciou ter recebido mais de mil vídeos e cartas de apoio, utilizando esse suposto respaldo para reforçar a importância de seus programas e serviços no campo. A campanha envolveu funcionários de diversos setores e pessoas ligadas a projetos da entidade, buscando transmitir a mensagem de união e compromisso com a causa defendida.
Enquanto isso, dados da CGU revelam um aumento vertiginoso de 57.000% nos valores descontados de aposentados pela Conafer entre 2019 e 2023, saltando de R$ 350 mil para R$ 202 milhões. A Polícia Federal também investiga a ligação de um assessor do presidente da Conafer com o esquema de intermediação entre entidades e servidores do INSS, além de sua sociedade em um banco digital que possuía acordos com a entidade.
Apesar das tentativas de contato, a Conafer e a defesa de seu presidente não responderam aos questionamentos. Em nota anterior, a entidade alegou estar contratando uma auditoria para esclarecer as dúvidas levantadas pelo inquérito e reafirmou os “inúmeros e bons serviços prestados aos seus associados”. Resta saber se a campanha “Eu Sou Conafer” será suficiente para atenuar os impactos das investigações e restaurar a imagem da entidade perante a opinião pública.
